FALTA DE LIBIDO CRÔNICA
Frequentemente
atendo a pacientes com falta de desejo sexual crônica, ou seja, aquela que ocorre pela
vida toda, ou por quase toda a vida ,
com parceiros ou parceiras diferentes e em situações diferentes.
Quando
analisamos estas pessoas, verificamos que as motivações da ausência de desejo são diferentes das daquelas
que tiveram uma vida sexual normal durante a maior parte da vida e que, por algum
motivo específico tiveram a sexualidade afetada.
Realmente
é mais difícil mudar um padrão crônico de baixo desejo sexual do que um padrão
em que houve uma mudança ocasional.
Para mostrar como funciona a baixa de libido crônica vou dar um exemplo fictício:
Suponhamos que a paciente X tenha tido uma educação
sexual repressora e sofrido assédio sexual na adolescência e ue aos 20 anos tenha retirado os ovários devido a um câncer de ovário e que após isso haja iniciado reposição de
estrogênios pelo resto da vida. Aos 25 anos suponhamos que tenha se casado e tido três filhos com
espaço de dois anos cada, e que as dificuldades de sentir desejo sexual e orgasmo que
já eram importantes tenham aumentado após o
casamento e que o marido não enha consegui compreender
o problema e se separado dela. X então, no nosso caso fictício, casou-se
novamente e o novo marido é bom e compreensivo, mas a vida econômica piorou porque ele não tem um trabalho
fixo; os problemas sexuais persistem e
há dois anos ela resolveu fazer um novo curso à noite , está trabalhando de dia
e estudando à noite.
Embora
o caso seja fictício ele representa, em alguma medida, os problemas de
muitas pacientes a que eu atendo no dia a dia de meu consultório.
A sexualidade é sistêmica e pensando assim
vamos enumerar os prováveis fatores da baixa de libido:
1) Uma educação sexual repressiva tende a fazer
com que a pessoa seja menos interessada em sexo, tenha menos experiências
sexuais, tenha mais medo do sexo, seja
mais tímida sexualmente e tome menos iniciativa sexual, entre outras coisas. Mudar estas questões de base será possível com um trabalho de psicoterapia em longo prazo.
2)Sofrer violência sexual na infância e na
adolescência pode provocar trauma sexual que leva a dificuldades sexuais devido
a medos inconscientes do sexo, .mesma situação acima quanto à necessidade de psicoterapia.
3) Aos 20 anos teve câncer de ovário, retirou
os ovários e então parou de produzir estrogênio por este órgão e também
testosterona, o que deve ter feito uma diminuição importante no desejo sexual. A reposição de testosterona, que seria necessário para melhorar a libido do ponto de vista hormonal, é complicada neste caso, porque a pessoa que teve câncer de ovário também é propensa a desenvolver câncer de mama , entre outros efeitos colaterais, nem sempre é possível fazer esta terapia hormonal.
4)Primeiro marido era pouco compreensivo em
relação ao problema sexual dela, o que pode fazer piorar o desejo, pois a
pressão de demanda causa uma ansiedade de desempenho. A paciente se separou mas o trauma desta relação e desta separação pode necessitar um trabalho em psicoterapia.
4)Teve três filhos em sequência, o que
resultou em menos tempo para sim mesma para o marido e para a sexualidade, mais
cansaço físico e mental. O cansaço físico e mental pode ter decorrido disto, muitas vezes a mulher faz uma jornada tríplice porque o parceiro pode ajudar pouco no cuidado doméstico(não é uma regra, mas é o mais comum)
5) Separou-se do marido o que pode ter
resultado em culpa pela separação, sofrimento pela perda, problemas com pensão
alimentícia, litígio, etc... que podem afetar a sexualidade
6)Casou-se novamente mas a vida econômica
ficou mais instável, preocupação que pode afetar a sexualidade. Todas estas preocupações da vida podem prejudicar a sexualidade
7)Voltou a estudar e agora está com agenda
tripla: trabalhar, estudar e cuidar de tarefas domésticas o que resultou em
cansaço físico e mental e menos tempo e disposição para a sexualidade.
Então vejam que uma pessoa com uma sexualidade
cronicamente afetada tende a ter vários
fatores que vão fazendo com que o problema se mantenha ao longo da vida. Em
muitos casos nos confrontamos com pessoas cujas pressões sobre a sexualidade se
somam e não será fácil para elas resolver todas estas questões ao mesmo tempo.
Decorre daí que os tratamentos das pessoas com
dificuldades sexuais crônicas costumam ser demorados, difíceis e
multidisciplinares, embora a maioria das que se propõem a fazer terapia, tratamento adequado e mudar suas concepções de vida conseguem melhorar a sexualidade.
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