Por que precisamos conversar com nossos filhos sobre a pornografia?

 

A pornografia é pop. Hoje ela está nas músicas, nos filmes, na Tv. A pornografia está definitivamente inserida na cultura. Qualquer um, de qualquer idade, tem acesso a ela, gratuitamente. Ela saiu do armário.

Quando você compra um pacote de TV ou de internet, além de canais de notícias, filmes, esportes, etc, vem sempre incluído o pacote de pornografia, o que significa que ela foi "normatizada" pela indústria do entretenimento, como uma forma a mais de se divertir.

Falar de pornografia sempre divide as pessoas entre os conservadores e liberais, os quadrados e os modernos.

Na verdade o sexo entrou definitivamente no rol de produtos da sociedade de consumo.

Sempre que vou falar sobre isso me tiram da cabeça a intenção. Fale de outro tema. Isso é muito complicado. Ninguém vai querer falar disso.

Desculpem-me. Precisamos falar.

As crianças estão vendo pornografia cada vez mais cedo. Aos 6 anos, uma boa parte delas já viu algum vídeo em seu celular. Os pais se omitem em proibir. Os pais não reconhecem o real perigo.

Acontece que a pornografia é uma ficção científica. Ela não é o sexo real. Ela é um programa editado, onde pessoas fingem performances inatingíveis, têm pênis e ânus gigantes, se esforçam para fazer malabarismos supostamente sexuais.

Além do mais, a pornografia é sexista, objetifica a mulher( e também o homem), torna o sexo e as pessoas objetos de consumo, sem outro significado maior.

Qualquer que seja a orientação sexual dos personagens, qualquer que seja o tipo de sexo(homossexual, transexual, heterossexual, grupal, etc..) ele tem sempre o mesmo roteiro em que o sexo é visto como um objeto de consumo em que o objetivo principal é tirar o máximo de prazer....do outro.

As crianças criadas no mundo da sexualidade pornografizada podem ser influenciadas por estes valores consumistas, machistas, performáticos do mundo porno. Isto está acontecendo, as crianças(principalmente as pré-adolescentes) e adolescentes se vêm perdidos neste novo formato de vida sexual.

É uma fase de construção da auto-estima e da imagem corporal. O que a mídia lhes impõe através dos corpos construídos com ideal de beleza e pela pornografia(imagens de auto-desempenho sexual voltado para o sexo pelo sexo) é capaz de afetar sobremaneira a construção de uma auto-imagem saudável que esteja fora dos padrões inatingíveis dos ditados pela mídia.

Por isso os pais precisam conversar com os filhos sobre isso. É preciso dizer que a sexualidade não é assim, pessoas reais não estão sempre dispostas a fazer sexo, não fazem sexo só para agradar ao outro, ligam o sexo a fatores como amor, afeto, prazer mútuo, etc... 

É preciso ensinar às crianças a respeitar o outro, e o momento da sexualidade é um ótimo momento para representar esse respeito.  

Mas os pais não podem silenciar sobre isso, porque fingir que não está vendo, fingir que não tem importância é doar a mente de seus filhos para a sociedade de consumo sexual. É torná-los um objeto desta fábrica de robôs, é criar idiotas .

Há instrumentos para impedir que a pornografia se dissemine em sua casa.  Bloqueie os canais, vigie o que os filhos vêm na internet, caso os surpreenda assistindo e explique para eles que aquilo é falso, que aquilo é fabricado, que ele tem muito mais a aprender sobre a sexualidade. 

É claro, se seu filho já for adolescente poderá ser dificil bloquear canais ou fazer com que ele obedeça. Ele sabe como desbloquear, ele assiste na casa dos amigos, no celular, no computador, a chance de ter alguma autoridade às vezes está entre os 6 e 12 anos.

Ensine que a sexualidade tem várias dimensões além do erótico, que há um contexto em que se pratica o sexo, e que isto se dá  nas relações sociais verdadeiras de amizade amor e compreensão, de igualdade, respeito à diversidade. 

Explique que as pessoas reais não ficam tantas horas praticando sexo, que pênis enormes mais machucam as mulheres, os homossexuais e os transexuais que os agradam, que nem todas as pessoas gostam de ser ejaculadas  no rosto, que nem todas as mulheres gostam de relações anais, que poucas mulheres gostam de fazer sexo com duas ou mais pessoas ao mesmo tempo, que as pessoas precisam de preparação e carícias para se sentirem atraídas sexualmente, que homens não têm ereção automática a não ser que estejam usando remédios para ereção, o que quase sempre acontece nos filmes, e que remédios para ereção somente devem ser usados por homens com necessidades médicas.

Ensine também que tudo o que é válido para as relações heterossexuais vale para relações homossexuais. Mulheres não fazem sexo com as outras, homens não fazem sexo com os outros somente para consumo e  orgasmo , mas para ter afeto, atenção, amor, amizade, e muitas outras dimensões,  que o sexo faz parte de um mundo infinitamente mais amplo.

E que tudo isso e válido também para homens homossexuais, transexuais ou de qualquer orientação sexual e identidade de gênero. As pessoas são diferentes em suas preferências sexuais mas são iguais na sua necessidade de amor.

Ensine que a relação sexual se dá entre adultos e envolve etapas de namoro, envolvimento, carícias, beijos, afetividade.

Enfim, distinga o mundo real do mundo fictício da pornografia. Isso se chama educação para uma sexualidade saudável.

Por que as questões da pornografia vão muito além disso. Ela se insere num universo de exploração econômica, empresários que vivem do sexo alheio para ganhar milhões , e esta indústria não se importa em ter escravos sexuais, em explorar crianças, em causar danos indeléveis físicos e psicológicos aos atores e atrizes pornôs.

A pornografia vicia, ela é tão viciante quanto as drogas pesadas. Uma criança, um adolescente e mesmo um adulto que passa muitas horas vendo filmes pornôs precisa aumentar cada vez mais a intensidade da prática sexual e os vídeos a que assiste vão se tornando mais violentos e mais fictícios com o tempo. 

Adolescentes que veem pornografia constantemente gastam muitas horas com o sexo, masturbam-se excessivamente, tendem a tratar suas parceiras como objetos sexuais pornográficos. Mulheres viciadas em pornografia comportam-se da mesma maneira, embora seja um número bem menor.

Há dúvidas se a pornografia se associa ao aumento do número de estupros na sociedade, mas muitos  vídeos pornográficos são claramente alusão ao estupro, são estupros simulados.

Um grave problema do uso da pornografia é que ela pode matar  a capacidade espontânea de fazer fantasias sexuais. Diante de imagens cada vez mais variadas( e contraditoriamente estereotipadas) de sexo os indivíduos que se viciam nelas precisam de mais e mais fantasias prontas para se excitarem. Daí a passar isso para a vida real é um pulo.

Uma prática sexual que se expande no mundo  é o "chemsex", o sexo químico, sexo regrado a drogas e em geral em surubas. Drogas com o GHB, que eram raras no passado, se popularizam, e são perigosas porque podem dar overdose e provocar comportamentos inesperados. A pornografia é uma droga que acaba levando a drogas mais fortes( sexo inseguro, sexo com drogas, estupro coletivo, perda de controle da consciência durante o sexo, etc....)

Enfim, há aqueles que pensam que a pornografia é apenas mais um divertimento, outros que acham que a pornografia é neutra, e aqueles, como eu,  que a combatem e muitas vezes são tachados de  falsos moralistas, guardiões de valores ultrapassados. Não é bem assim, a pornografia é um mal a ser combativo, a pornografia precisa ser discutida.