AUTOESTIMA E SEXUALIDADE 2

AUTOESTIMA, AUTOIMAGEM E SEXUALIDADE

Imagem corporal e autoestima influenciam sobremaneira na sexualidade da mulher, bem mais do que na do homem. A sociedade contribui para isso valorizando a estética feminina com um bem em si, algo a ser cultivado.   
Em 2012 dois psicólogos da Universidade de Utrecht, na Holanda, chamados Liesbeth Woertman and Femke van den Brink, publicaram um artigo no qual fizeram uma revisão de 57 estudos sobre a associação entre imagem corporal e sexualidade, estudos realizados na América do Norte e na Europa e também na África e  na Ásia. Entre as conclusões mais importantes está a preocupação quase universal  com o corpo e a interferência da imagem corporal na atividade sexual das mulheres. Os autores concluiram que as mulheres que têm um sentimento negativo sobre o seus corpos  têm menor nível de excitação e desejo, evitam mais o sexo, têm menor nível de prazer, de orgasmo e de satisfação sexual. Eles também postularam que mulheres adolescentes com imagem corporal e autoestima menores tendem a se engajar mais em comportamentos sexuais de risco,  fazer uso inconsistente de preservativos e contraceptivos e ter mais parceiros casuais.
     Em geral as mulheres preocupam-se muito mais com sua autoimagem e investem muito mais nela do que os homens. O que faz as mulheres serem tão preocupadas com sua imagem, porque passam tanto tempo cuidando dos cabelos, usando cremes de beleza, gastando seu tempo em manicures, em clinicas de estética ?
    Uma das teorias psicológicas que explicam isso é a teoria da auto-objetificação feminina, assim explicada pela psicóloga Carolina Loureiro em sua tese  de mestrado. Ela afirma:



"A auto-objetificação consiste na internalização do olhar externo sobre o próprio corpo, ocorrendo a partir das experiências de objetificação sexual do indivíduo na sociedade. Ela leva à preocupação excessiva com a aparência em detrimento dos estados corporais e das competências físicas, sendo manifesta por uma autovigilância corporal constante que pode levar a diversas consequências que impactam a saúde e o bem-estar do indivíduo."


    Os que defendem a tese acima partem do princípio de que as mulheres, em nossa sociedade, são educadas, em última análise, para ser um objeto erótico masculino, e por esse motivo seu corpo e sua beleza são mais valorizados socialmente do que seus atributos intelectuais e sociais.
Uma vez introjetada essa ideia (não só pela mulher mas por toda a sociedade) de que ela “precisa” a todo custo ser bela com base nos esterótipos culturais, a mulher passa a vida a buscar uma imagem corporal idealizada, que até por ser idealizada nunca é conseguida.
A relação desses fatores com a sexualidade é evidente.
    Mulheres com uma imagem corporal próxima daquela que elas almejam ou da que os outros almejam para ela , tendem a ter menos problemas com a sua sexualidade(embora não seja uma regra geral), enquanto aquelas cuja auto imagem não está próxima ao que elas e/ou os outros esperam delas tendem a se tornar focadas em sua aparência mais do que no prazer sexual e na sua capacidade social e sexual e se tornam  vítimas de sua autoavaliação. Como dizem os existencialistas, o importante não é o que fazem com você, mas o que você faz com aquilo que fazem com você.
As mulheres também tendem a creditar a sua autoestima à sua aparência, de  forma que autoestima, autoimagem e  sexualidade ficam interligados.
    Os órgãos eróticos  masculinos e femininos são importantes na construção da autoimagem e da autoestima. As mulheres se preocupam  com os seios e os genitais enquanto os homens se preocupam com o tamanho do pênis. O curioso é que esses órgãos costumam ser avaliados pior pelos homens e pelas mulheres do que pelos seus cônjuges. As mulheres  preocupam-se mais com seus genitais do que seus parceiros e os homens preocupam-se mais com tamanho de seu pênis do que as suas parceiras. Os estudos sobre esse tema são sintetizados por Wiederman e Sarin(citados acima, mesma referência):
    Cerca de 66% dos homens acham que o tamanho de seu pênis é normal, 22% acham que seu pênis é grande, e 12% acham seu pênis pequeno, porém 45% deles queriam aumentar o tamanho do pênis. Aparentemente, os homens quase sempre querem ter um pênis maior do que possuem. No mesmo estudo, 85% das mulheres relatavam estar satisfeitas com o tamanho do pênis de seus parceiros. Um dos trabalhos revisados indicou que a maioria dos homens que procuram clinicas urológicas para aumentar o pênis têm pênis de tamanho normal. É bom salientar que o ganho em tamanho do pênis após cirurgia para esse fim é somente de 1 a 2 cm.
    Outro trabalho avalia a satisfação das mulheres com os seios. Observou-se que 70% das mulheres estavam insatisfeitas com os seus seios, enquanto a grande maioria dos seus cônjuges(56%) estavam satisfeitos com os seios delas. Das mulheres que fizeram cirurgias estéticas das mamas(26 mulheres pesquisadas em um trabalho), 46%    afirmaram ter aumentado sua frequência sexual após a cirurgia, 36% relataram estar com mais vontade de fazer sexo, e 31% relataram ter aumentado seu índice de orgasmos após a cirurgia.
    Outro tipo de cirurgia muito procurada pelas mulheres é a cirurgia estética dos genitais, principalmente a dos pequenos lábios vulvares, também chamada de ninfoplastia. É uma cirurgia relativamente simples, com bons resultados estéticos e com poucos efeitos colaterais. Entretanto, o que se questiona é a necessidade de se enquadrar em um padrão de beleza construído socialmente. A variação do tamanho dos grandes lábios é um padrão universal e em apenas 10% das mulheres leva a um incômodo suficiente para ter uma indicação cirúrgica por questão de saúde.
    O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de cirurgias plásticas . Vivemos em um país em que oculto do corpo é exacerbado. 
Até que ponto devemos e queremos ser escravos dos esterótipos de beleza? Até que ponto tais esterótipos são um tipo de controle social das mulheres? Até que ponto as mulheres e os homens estão conscientes desse tipo de controle social? Por que ele é pouco debatido socialmente? Por que as mulheres aceitam tão passivamente esse tipo de controle social? Isso é realmente um controle social ou algo de que as mulheres se apropriam para sobreviver socialmente através de seu capital erótico?

Loureiro, C. P. (2014). Corpo, beleza e auto-objetificação feminina. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, Espírito Santo. 

Journal of Sex  Research, 49(2–3), 184–211, 2012
Body Image and Female Sexual Functioning and Behavior: A Review
Liesbeth Woertman and Femke van den Brink
Department of Psychology, Division of Clinical and Health Psychology, Utrecht University
Wiederman M, Sarin S. Body Image and Sexuality in: Principles and Practice of Sex Therapy.(2014) Binick MY and Hall KSK(editores, 5a edição). The Guilford Press. NY London.

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