FIDELIDADE E (IN)FIDELIDADE SEXO-CONJUGAL

Não há a infidelidade. O que há são infidelidades(como diria Machado de Assis). Uma amiga minha, certa vez, disse-me que a traição era uma "facada sem faca"...tal qual a dor do homem com sua faca, do João Cabral de Melo Neto. Dor com substância de faca. Forma-se a ferida narcísica e daí pra diante é o conviver com ela, subvertê-la, convertê-la, dissolvê-la. Aliás, um outro amigo também disse que o casamento, como dizia o padre, é indissolúvel: sem solução.
As pessoas fazem a sua própria interpretação do que é ou não traição(ou infidelidade, como preferirem) e é com a sua interpretação que vão vivendo. Para algumas trair só por sexo não é traição: traição é quando existe envolvimento(leia-se afeto, paixão, amor). Para outras se há sexo há traição. Para terceiras, nem precisa haver sexo: só a intenção já é trair. O certo é que, como eu já disse, o desejo sexual é um ser independente de nós ele vai chegar sempre e já a fidelidade é uma intencionalidade Sartriana, uma determinação Aristotélica. Eu decido se quero, ou devo, ser ou não infiel, assim como eu crio todas as minhas categorias de fidelidade e posso pensar que não traio quando minha mulher pensa que eu traio, ou posso pensar que traio quando ela pensa que eu não traio, assim por diante. Seja como for, vocês já pensaram como isso atormenta as pessoas, quantos já se separaram, mataram ou morreram por causa disso? O melhor não seria ficar tudo bem claro antes das pessoas se unirem? Um perguntava pro outro: vem cá, o que você acha que é a infidelidade, quando e em que circunstâncias você acha que é válido trair ou não? É claro, podem mentir, mas a mentira vai ficar como o válido, ou a verdade vai ser sabida desde o início. Será que não facilitaria as coisas? O problema é que temos a mania de fazer contratos implícitos ;universalizar os conceitos. O que vale pra nós é o que vale pra todos e quando as coisas não saem como nós queremos é porque o outro errou. O outro errou o nosso erro e não o dele, que era um erro acertado. Lembremos: fidelidade é um compromisso, um contrato. Quem quiser manter o contrato, se ele é de fidelidade, vai se dar bem. Quem não cumprir, vai sofrer as consequências, e estas serão de acordo com a interpretação, ou melhor, com o grau de ferida narcísica do outro.

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